Pessoas e Seres Humanos






As vezes quando estamos a sós, paramos e pensamos nos possíveis motivos para tudo o que já fizemos mesmo que esse tudo já os tenha; há vezes em que paramos e pensamos em motivos para coisas que ainda iremos fazer..., coisas que sempre ficam pra depois, talvez por esquecimento..., talvez por medo.
Quase sempre o que fica pra depois é o que realmente importa e é isso o que realmente torna o ser humano apenas uma pessoa.
Os motivos que buscamos para sair dos caminhos que nos foram postos estão sempre a vista daqueles que quiserem ver, basta procurar na simplicidade a semelhança entre você e teu próximo.
Não há um porque lógico para se ter uma vida planejada, mesmo porque a criação deste a tira o titulo de vida.
Viver é ser livre para fazer suas escolhas deixando-as falar por si, estando elas certas ou erradas.
Nascemos todos com poucas opções, destinados a ser pessoas por força maior e colocando assim um ponto final a humanidade.
O mundo girou nos últimos séculos e com ele o tempo passou..., os seres humanos estão dando lugar as pessoas e a vida está tornando-se apenas rotina. A vontade já não prevalece como antes pois agora há regras que definem o certo e o errado..., não podemos mais errar.
Há um caminho muito rígido em nossa frente e precisamos muda-lo, há e sempre houve uma segunda opção mas ainda preferimos o que todos os outros preferem, a igualdade.
Entretanto, uma única coisa dentre tudo isso, por mais que o mundo pregue jamais fomos e jamais seremos iguais, somos todos nada mais que semelhantes.

Consequência



Que tolice seria tentar encontrar uma divindade no próprio reflexo.
Ainda que pudesse classificar uma alma como boa ou ruim dentro de meros padrões humanos... mas sequer é possível unir alma e humanidade num mesmo termo onde ambos consideramos ilusões.
Maldita seja a existência desfocada...
A que se oportuna a influência da brisa alheia e dos olhares...,
Maldito seja o que oportuna-se a perder... propositalmente.
Somos todos fatos ambulantes perdidos em busca de interpretação.
Nossas mentes são nossas conseqüências e nossa maldição é sofrer por elas.
Há sorrisos que nos abatem, há toques que nos machucam e há o beijo que fere profundamente com o mais doce carinho... há a dor provocada pela própria perdição...
Há conseqüências com conseqüências e há feitos sem glória... e há a morbidez... meros cães sem raça e mente, seres ocultos que nem por isso valem seu ar.
Há a vontade inútil de lutar, mas há a reação do impossível agindo sobre tudo..., há a reação da imperfeição...
Pensar, agir, respirar... tornar-se presença no espaço... a conseqüência do oposto ao nulo sempre gera conseqüência cada esta gera uma ação e assim... eternamente.
A realidade é a cadeia devastadora das conseqüências. Pensar não muda sua influencia sobre isso ou a influencia disso sobre você..., pensar não muda nada além de uma próxima conseqüência...
Basta viver a própria tolice quando não se espera nada alem do tempo... seja mais um inútil sorrindo ou seja você.

Sono




Talvez eu tenha acordado com os sentidos falhando...
Sinto o calor tomando conta dos meus membros numa estranha sensação de que já é tarde demais.
O sono ainda me domina segurando meus braços e pernas de maneira a frustrar qualquer tentativa de movimento..., minha cabeça dói.
A vista embaçada, o gosto de saliva velha na boca..., o lençol aos pés.
Sinto que já é tarde demais
Os carros na rua me dizem que já é tarde demais...
Uma bicicleta ao longe anuncia o jornaleiro, dois segundos se passam e o rotineiro som de um bolo de papel lançado com certa agressividade na porta me faz lembrar que o próximo jornal seria sábado, mas hoje ainda é sexta..., ou não?
A filha da vizinha definitivamente grita demais pra uma criança de seis anos prestes a ir pra escola..., ainda não escuto o escapamento estourado..., o carro não esta ligado..., mesmo assim deve ser bem tarde.
Eu olho pro teto, eu não vejo nada..., ‘eu preciso dos meus óculos...’
Esfrego uma perna sobre a outra, dou de ombros lentamente..., bocejo..., bocejo novamente. Tenho que levantar.
Sento-me na cama com dificuldade, me apóio sobre os braços de forma a tocar o rosto na cortina..., está um sol infernal lá fora..., definitivamente sim, é bem tarde.
Fico de pé relutantemente. Há uma sensação constante de altura excessiva e desequilíbrio.

'preciso dos meus óculos'

Apóio-me nas paredes do quarto especialmente apertado e ando decididamente pra onde devem estar meus óculos..., que dia foi ontem, mesmo?
Meu corpo dói, minha mente está confusa e esse gosto de saliva.

'preciso de um copo d’água'

Abro a geladeira cheia de vento e duas garrafas de água, encho o copo que estava na quina da pia e bebo...

‘sinto-me um andarilho no deserto’

O som de cada gole descendo pela garganta ecoa numa sonoridade assustadora, olho pros lados, ‘meus óculos!’
Ao lado da cafeteira, flechado por um raio de luz da janela entreaberta..., está embaçado, mas estou melhor assim...
O celular dá sinal de bateria no armário, contorno a mesa... Tropeço nas próprias pernas...

‘9 chamadas não atendidas’
‘domingo 15h23min’

Não sei enfim se perdi dois dias da minha vida ou pela primeira vez aproveitei fazendo absolutamente tudo o que queria...

‘vou dormir um pouco mais... ’

Brisa Vermelha



Sob os sons do silêncio acordou-me a mais leve brisa...

Fez-me frio, fez-me medo..., fez-me sede de obsessão... tocou-me ela com o mais doce sentimento do proibido...

Senti no teu perfume a doçura do veneno, enganei-me com ele no gole da perdição... “fui levado”, perdi a mim mesmo e a meu ideal...

Eu perdi 'lógica’

O doce tornou puro amargo e sua pureza virou meu pecado...

Divino talvez fosse a expressão pro segundo, mas o momento sugeriu ‘voracidade’.

Clamor por silêncio onde o calado tornou-se sinônimo de segurança..., não houve meios, não houve vontade, não houve o porque parar... não parei, não desfiz, não julguei e não fui julgado... mas devia.

A mente viajou, tomou vida e agiu por si, me abandonou nas águas vermelhas do fogo e do som..., me pediu silencio, me pediu abafo, me pediu controle... obedeci ‘menti’.

O calafrio fez-me o acordar da alma, deitou-me no leito do sangue e tapou minha voz..., deixou-me ecoar por mim mesmo quando clamava por liberdade amando a prisão do momento... me prendi, me prendi, me prendi...

Fui libertado... jogado pelos céus e emaranhado pelos anjos, deitei-me junto ao coração que me fez bater, senti o pulso da alma nos olhos e olhei... podia dizer que ainda estava vivo...

Podia ainda dizer que teria sobrevivido ao gole do desejo... e aos efeitos do pecado...

Obviedades Incertas





...definitivamente o fim do tempo que tanto temia já se passou há muito tempo.

Quando não se tem mais apegos sólidos, não se tem mais apegos ilusórios..., a mente decai por uma planície de bocejos vazios sem visão de futuro e sobrevive apenas em uma única indagação que consiste em saber o momento exato em que tudo acaba.
Começa a parecer uma atitude pretensiosa dar uma “mãozinha” pra que o fim chegue..., até a hora em que a mente titubeia. As dores da certeza que pairam sobre o peito agora são mais instáveis que os giros incertos de uma dançarina sobre seus próprios pés...

..., as pessoas conseguem sanar sempre “quase” todas as dores.

Como se tudo fosse insólito, como se toda aquela cena fosse pura imaginação, como se talvez nem cena houvesse..., como se talvez tudo fosse fruto de um sonho imerso em neblina tão densa e pegajosa quanto a melodia que viera ao fundo..., tudo sem memórias, apenas som e um sentimento abrasivo de tristeza perante o espaço vazio.

..., haverá enfim o momento em que só se terá o espaço a contemplar.

Então em meio a incerteza da obviedade se tem sussurros de lucidez..., algumas coisas que nem sempre fazem sentido são postas como uma mistura em equilíbrio delicado de ternura e dor que fere gradualmente a cada pensamento correto sobre a realidade...
... a verdade é que agora estou só...